segunda-feira, 20 de abril de 2009

A República Real e o Monárquismo Estadounidense

Por Felipe Melo França


Após a II Guerra Mundial, somente 21 países (12,2%) daqueles que existem hoje, mantiveram um regime democrático ininterrupto desde 1945. Destes, 14 (66,7%) são Monarquias. Dos 49 países signatários da Carta de São Francisco, em 1945, que deu origem à Organização das Nações Unidas (ONU), somente 12 (24,5%) mantêm regimes democráticos até hoje. Destes, 9 (75,0%) são Monarquias. As outras 3 nações são a Costa Rica, EUA e a França.


Repúblicas bem sucedidas são poucas, mas existem. Singapura, com devidas restrições, é um exemplo de sucesso; também o é a Confederação Helvética um caso sui generis de estabilidade. Tratando-se especificamente de repúblicas presidencialistas exemplos são mais raros. República presidencialista sólida e bem-sucedida é caso para estudo, para dissecação e análise laboratorial – como por parte fez Tocqueville. A grande e mais sonora exceção chama-se Estados Unidos da América.

Os EUA foi o modelo republicano de boa parte dos países da África, alguns da Ásia e quase toda a América latina. Desta maneira, foi ao molde estado-unidense que o Brasil adotou a República, posto o golpe de estado de 1889 , que derrubou a monarquia brasileira regida pelo ramo brasileiro dos Bragança. Lamentavelmente, as tentativas republicanas fracassaram e não alcançaram o sucesso da primogênita ianque.
Mas, onde esteve e está o diferencial dos EUA? Uma das possíveis respostas surge da análise da essência do presidencialismo ianque: o relacionamento do povo com seus líderes.
Os fundadores da nação norte-americana são - para os americanos - muito mais do que meros políticos, no sentido vulgar da palavra. Seus presidentes tornar-se-iam muito mais que figuras públicas. A representação exercida por esses extrapolaria o sentido jurídico-administrativo e entraria para o campo simbólico, moral, ético; o líder estadunidense assume, além do cargo formal, papel régio o qual, em outros cantos do Atlas seria exercido por um rei soberano, seja nas antigas monarquias absolutistas ou nas modernas monarquias constitucionais.

A figura do presidente-monarca é explorada ao máximo. O George Washington da nota de um dólar é simbolicamente tão real quanto Elizabeth II nas cédulas canadenses ou o Príncipe Albert nos euros monegascos. Abraham Lincoln para a posterioridade torna-se símbolo da unidade nacional, do não-separatismo, assim como foi e é o rei espanhol responsável pela unidade nacional em tempo de desacordo entre as diversas Comunidades. Na mesma linha de raciocínio explica-se a figura simbólica da primeira-dama, personificação dos valores nacionais e exemplo máximo da mulher na família americana; sem somar nem subtrair, o mesmo papel assumido pela consorte real.
Em termos genealógicos chega a ser curioso o republicanismo americano e inteligível o caráter real de seus presidentes. É dito que a George Washington foi ofertada a coroa de uma monarquia Americana, mas, a recusou. Sangue real não faltou. Descendia em linha varonil aos condes escoceses de Dunbar, que por sua vez tinham como ancestrais a Casa de Macduff, segunda dinastia real da Escócia. Também, pelos ancestrais do seu pai, Augustine Washington, o primeiro presidente americano descende oito vezes do Rei Jean de Brienne de Jerusalém, uma vez do Rei Luís VIII da França, três vezes do rei Eduardo III e três vezes do rei Eduardo I da Inglaterra – sendo este tetraneto do rei de Portugal Dom Afonso Henriques, pioneiro do estado-nação. Ainda mais curioso, Washington não fora o único presidente americano a ter sangue azul. Dúzias deles tinham algum antepassado ligado à Casa Real inglesa e com estudo mais minucioso pode-se chegar às mais longínquas dinastias européias .

Mas, Washington optou pela República. Após alguns séculos várias explicações podem ser encontradas para a recusa a coroa. Uma delas trata de contextualizar a escolha. Escolher ser uma monarquia em meados do século 18 seria por parte, acatar como modelo a corte britânica e seus vícios de então ou ainda, alguma outra monarquia absolutista preexistente no Velho Mundo, chocando-se com o ideário iluminista. O âmago revolucionário de Washington recusava o que havia de antigo e de certo modo degenerado. Seu grande engano – se foi de Washington... – fora associar os vícios de seu tempo à Monarquia.
Enganos a parte, o sucesso norte-americano foi consideravelmente influenciado pela essência realista de seu republicanismo. Como, por outro lado, o insucesso das Repúblicas latino-americanas é vinculado à visão limitada de seus governantes, incrédulos da importância de instituições milenares legadas pelas monarquias e encarnadas pelo soberano como o poder simbólico e moral do líder, a importância da definição de valores, a representação da imagem nacional e sem, contudo, engessar a nação a ideologias e visões político-partidárias.
No dizer de Lúcia Hipólito, “A Primeira Família, seja na Realeza ou na República, é sempre simbólica. Ela é uma transmissora de valores, de adesão às marcas nacionais. Seus atos apontam caminhos, soluções e possibilidades. O exemplo que ela dá revela seu compromisso com o País e seu futuro”. Na República poucas vezes se encontra uma família presidencial preparada. Ainda mais raro é quando a própria “primeira família” reconhece seu papel simbólico – uma das faltas mais freqüentes dos Chefes republicanos da América católica. Conscientemente ou não esse é um erro que passa longe da Casa mais simbólica do Novo Mundo: a Casa Branca.

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1- Como claramente se percebe ao observar a bandeira provisória dos Estados Unidos do Brazil, versão auriverde da ianque.

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2- Dos 43 presidentes norte - americanos, desde George Washington (1732-1799) a George W. Bush (nascido em 1946), 26 descendem de Dom Afonso Henriques, rei e fundador de Portugal.
Segundo o genealogista Luís Amaral, estas ligações "estão largamente documentadas e não têm nada de transcendente".
"Na América, grande parte das pessoas descende de ingleses, cuja família real tem ligações muito fortes e muito antigas à casa real portuguesa, logo desde os séculos XII/XIII".

3 comentários:

  1. bom tem dois lados da historia nesse seu texto o primeiro e que pelo fato dos presidentes americanos darem certo e que eles pasam uma certo sentimento nascionalista que o rei pasaria aos seus súditos onde as pesoas vem ele como o grande rei salvador, bom e ou honesto (Baraqui obama)porem se em um pais da certo esse presidente monarca cabe ao povo mudar esse pensamento atrasado que nos temos e pasar a olhar com outros olhos nosso governo a fim de mudalo e se em um pais da certo porque nao aqui etc etc ...
    ksksksksksksksks
    so pra contraria

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  2. Cada povo tem o seu governo, e se passaram 120 anos e ainda não deu certo. Então me responda quando dará?

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  3. Todo país "democrático" tem a tendência de virar um jogo de cartas marcadas, vemos nelas apenas duas forças políticas relevantes ou no máximo três ou quatro PT ou PSDB, Republicanos ou Democratas etc.

    E todas elas com suas próprias Ideologias, e atreladas a patrocínios de grupos econômicos, interesses de classe; e compromissos de campanha.

    A república é um jogo de futebol,sem a figura do Juiz, ou seja a nação quando não vira uma casa da mãe Joana ( como o Brasil), vira um EUA da vida, entregue apenas a duas correntes de coronéis Republicanos e democratas.

    Só que diferente do Juiz de futebol, o rei não pode ser corrompido pois os políticos não tem nada a lhe oferecer, pois a nação e todo seu $$$ já do Rei!

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